Por Ecopress
A construção civil é, ao lado da geração de energia, o setor que mais polui. É, ao mesmo tempo, uma das que menos adotam tecnologias e processos para evitar o desperdício, traduzido em agressão ao meio ambiente. Somente em São Paulo, entulho de obra enche diariamente 2.500 caminhões, duas vezes mais que o lixo urbano, segundo estudo do Projeto Reciclagem. Construções e reformas consomem 66% da madeira natural extraída das florestas. "O correto seria encontrar um equilíbrio entre a sustentabilidade e a construção civil para que pudéssemos suprir nossas necessidades sem comprometer as futuras gerações", afirma o arquiteto Gláucio Gonçalves, fundador do EB-A - Espaço Brasileiro de Arquitetura, preocupado com a questão da educação ambiental em seu setor.
"A sustentabilidade tem de ser uma conduta de vida, ou seja, as pessoas precisam ser ecologicamente alfabetizadas e entender os princípios de organização das comunidades ecológicas e usar esses princípios para criar comunidades humanas sustentáveis. É um conceito sistêmico, que está diretamente relacionado com as questões econômicas, sociais, culturais e ambientais", observa Golçalves, ao listar os princípios do segmento, segundo o Relatório de Brundtland, de 1987, da norueguesa Gro Harlem Brundtland, que estará no Brasil no dia 22 para participar do Encontros de Sustentabilidade, promovido pelo ABN Amro Banco Real. São eles: (1) uma relação harmônica do edifício com o seu entorno; (2) sistemas de energia mais eficiente e menos poluente; (3) sistemas de coleta e tratamento de água e esgoto; (4) sistemas para a redução da formação de resíduos e o seu reuso (canteiro de obras); (5) qualidade do ar interno e conforto ambiental; (6) a escolha integrada dos processos e materiais construtivos e (7) uma avaliação de desempenho pós-obra.
Em São Paulo, segundo o sindicato das empresas do setor, 77% das construções são autogeridas, resultando em falhas como remoção da cobertura vegetal e impermeabilização do solo. Embora as empresas cimenteiras de todo o mundo tenham conseguido adotar processos mais limpos de produção, a geração de dióxido de carbono (CO2), o principal gás de efeito estufa, mais do que dobrou de 1950 a 1980. Como o processo é cumulativo, esse gás, mais o emitido depois, continua produzindo efeitos. Cada tonelada de cliquer (base para a produção do cimento) emite mais de 600 quilos de CO2. A reciclagem é uma das principais alternativas para que a construção civil possa contribuir com o meio ambiente, observam especialistas. A Votorantim, por exemplo, passou a usar em sua unidade de cimento em Cubatão (SP) escória de alto forno, reduzindo as emissões de CO2. O projeto valeu à empresa o reconhecimento da Organização das Nações Unidas dentro do programa de mecanismo de desenvolvimento limpo do Protocolo de Kyoto. Isso permitiu a emissão de créditos de carbono, que são vendidos a países desenvolvidos obrigados a reduzir a liberação de gases-estufa. O dinheiro abate parte do investimento
Segundo Gonçalves, "é importante salientar que o projeto deve contemplar uma modulação e racionalização para evitar desperdícios. Ou seja, uma modulação dos ambientes contemplando as dimensões de cerâmicas de piso, bem como uma padronização de elementos estruturais e a compatibilização das alturas em função de vigas e alvenaria". E acrescenta: "Dentro das diversas possibilidades que a sustentabilidade possibilita na construção civil e arquitetura, estas seriam apenas algumas que, se trabalhadas em grande escala, poderiam surtir um efeito extremamente positivo. Também destaco que a sustentabilidade abrange vários níveis de organização, desde a vizinhança local até o planeta inteiro".
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